Lojas Perdidas
- Ignatyus Arkadel
- Nov 5, 2016
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Lojas Perdidas
Fazem aproximadamente três mil e quinhentos anos o Império de Sólomon desenvolveu um nível tecnológico como nunca se havia visto na superfície de Gaïa. Em poucas décadas criaram maravilhas, obras que escapavam da imaginação do homem. Tiveram tanto poder que podiam desafiar os deuses.
Porém, sua glória foi efêmera. Em uma só noite sua civilização se extinguiu e todos os seus conhecimentos se perderam na memória dos tempos. Mas desconhecidos pelo homem, ocultos nas sombras, ainda hoje seguem existindo restos de suas obras, fragmentos de uma ciência agora extinta.
As Lojas Perdidas.
A Ciência Perdida
Com os poucos e deteriorados restos que hoje perduram desta época, é difícil dizer com precisão qual foi a verdadeira extensão da ciência de Sólomon. A única coisa certa é que seus conhecimentos excediam completamente aos de qualquer outra cultura da história. A base tecnológica das Lojas Perdidas é sobrenatural, ainda que se prende em fórmulas mágicas. As forças místicas são usadas como fonte de energia, depurando seus efeitos através de complexos programas e mecanismos. Deste modo, as máquinas de Sólomon podem alterar ou ignorar parcialmente as regras da realidade, sendo ao mesmo tempo muito mais que simples artefatos mágicos.
O Doutor Schwarzwald, considerado atualmente o maior conhecedor sobre Lojas Perdidas, fez um detalhado lapso da ciência de Sólomon, diferenciando entre dois períodos temporais (os inícios de Sólomon e sua época de esplendor) e três níveis de tecnologia. O primeiro nível é denominado Genum, ou ciência civil. É aquela que todos os cidadãos tinham acesso; a mais básica e simples das Lojas. Lhe permitia criar marionetes artificiais como servos, sistemas de comunicação a longa distância e veículos com motores mágicos, como barcos, trens ou zepelins. Sua ciência médica gozava de enormes avanços, com dos quais podiam eliminar qualquer classe de enfermidade ou implantar membros ou órgãos artificiais. Por suposto, também haviam outros muitos avanços de índole doméstica, como alimentos transgênicos ou simples máquinas de escrever.
O segundo nível é denominado Archanum, cujo desenvolvimento e uso era reservado apenas aos senadores e forças militares de Sólomon. Representa uma aplicação superior da ciência, como implantes de diminutas nanomáquinas na corrente sanguínea, dispositivos que permitiam controlar o clima ou mesmo terraformar grandes superfícies de terreno. Dentro desta categoria se engloba, além do mais, a tecnologia bélica; golems de guerra, exoarmaduras de combate ou plataformas flutuantes (enormes aeronaves tecnomágicas fortemente armadas), entre outras muitas.
Finalmente se encontra o terceiro grau, ao que os experts se referem vagamente como Dyeus. Não há provas de que chegasse realmente a existir, pois quase todo o conhecido sobre este nível tecnológico se baseia em conjecturas. Supostamente, é o nome dado aos projetos secretos que o Senado de Sólomon pôs em marcha pouco tempo antes de que seu império fosse arrasado, o hemisfério de toda a ciência das Lojas. Entre eles se encontram armas experimentais extremamente poderosas, como o satélite laser Gravestone, ou sistemas de inteligência artificial como o programa Único, capaz de controlar e direcionar milhares de máquinas em uníssono.
A Sede de Poder
A existência das Lojas Perdidas permanece envolta em um completo segredo para a sociedade, mais até mesmo que o sobrenatural. Entretanto, muitas forças e organizações de Gaïa tem constância do poder oculto por trás da tecnologia de Sólomon, sabendo que são muito mais que uma mera lenda. Em consequência, não são poucas as que tratam de se fazer com que tantas quanto puderem estejam a seu alcance, sem importar o preço a pagar por isso.
Nestes momentos, os dois principais competidores são o Sacro Santo Império e a Aliança Azur, pois ambas potências precisam delas para obter uma verdadeira superioridade sobre a outra. Têm enviado em segredo numerosos agentes e investigadores para descobrir e desenvolver novos elementos tecnológicos baseados nas Lojas. Estes grupos atuam no mais absoluto anonimato, inclusive nas costas das forças militares de seus países, pois nem a Imperatriz nem os senhores da Aliança desejam que se lhes relacione com tais descobrimentos. Só os mais altos cargos da Mão do Imperador e Les Jaeger supervisionam proximamente tais avanços.
Por sua localização, Abel dispõe da maior quantidade de restos arqueológicos de Sólomon, entre os quais há numerosas Lojas ainda não encontradas. No passado, alguns imperadores estiveram interessados nelas, mas suas descobertas foram preocupantemente perigosas e acabaram as abandonando. Elisabetta decidiu iniciar sua investigação faz só alguns meses, assim que de momento seus avanços não são demasiadamente notórios. O que a maioria ignora é que os maiores vestígios se encontram sob Arkângel e seus quatro Anjos Guardiões. Em quanto a Gaul e a Aliança, pode ser que seu território não disponha de tantas Lojas, mas o antigo Senhor da Guerra já leva a muito tempo as investigando. Graças a isso, conseguiu reparar e modificar várias marionetes de combate e outras armas similares que compartilham os mesmos princípios. Para provar sua efetividade e polir qualquer erro de desenho, as está pondo secretamente a prova na guerra que se iniciou em Nanwe.

Se destacando por cima de Abel e Azur, Wissenschaft é provavelmente a organização que na atualidade tem maiores conhecimentos e avanços das Lojas Perdidas. Tendo em conta que foi criada por Lucanor e Schwarzwald, os dois maiores gênios do mundo, é lógico que seus membros possuem conhecimentos muito superiores aos de qualquer outra sociedade. Entretanto, não conformados em apenas reutilizar as Lojas existentes, a organização desenvolveu grandes avanços próprios, as tomando simplesmente como fonte de inspiração. Alguns de seus engenhos são exoarmaduras de combate, implantes de pedras psíquicas no cérebro humano ou membros artificiais. Se destacando sobre todos eles, se encontra o Processo, um avançado projeto que substitui o sangue por uma estranha substância escura. Dependendo do grau de pureza, as capacidades que dão são superiores, mas também maiores são os riscos de se tornarem loucos, sofrerem alterações físicas ou mesmo de morrer. Até o momento Wissenschaft desenvolveu só umas vintenas de processados de pureza superior a uns 25%, ainda que os resultados nunca foram exatamente os desejados. Os agentes de elite de Lucanor, os corvos, que nem sequer recebem o nome de processados, tem um nível inferior ao de 3%.
Se sabe com segurança que, nestes momentos, vários chefes científicos da Wissenschaft estão desenvolvendo outros projetos similares de grande envergadura.
De maneira parecida Tol Rauko possui consideráveis conhecimentos das Lojas, já que em seu cometido diário geralmente se encontram com elas frequentemente. Isso lhes permitiu desenvolver alguns elementos tecnomágicos, especialmente os relacionados com sistemas de segurança e de contenção, ainda que os usam em pouquíssimas ocasiões; apenas para se assegurar de que ninguém entre ou saia dos lugares considerados mais perigosos. Às vezes, adentrar nas ruínas seladas por Tol Rauko pode significar bater de frente a algo muito maior que as proteções que seus habitantes deixaram para trás.
Outras forças interessadas no poder das Lojas são as do Sol Negro, que comercializam em alguma ou outra ocasião com elas, ou a Igreja, que não quer ficar para trás na corrida bélica entre Abel e a Aliança. No momento, nenhuma delas chegou a um grande avanço, mas já levam tempo analisando de maneira limitada a ciência perdida.
Além das grandes organizações, muitos indivíduos já fizeram contato de um modo ou de outro com as Lojas Perdidas em um de seus aspectos. Entre muitas outras coisas, se sabe que já têm começado pelo menos um protótipo de cavalgaventos tecnomágicos em Galgados, arcaicas marionetes de combate em Remo ou um veículo capaz de escoar as areias do deserto de Salazar como se fosse água. Tais obras são encontros focados de pessoas isoladas, ou pequenos grupos de investigadores sem ligação.
As Trinta Peças
Segundo os mitos, toda a tecnologia de Sólomon tinha como base trinta peças de metal negro de misteriosa procedência. Pelo que parece, eram catalisadores de informação com a capacidade de evoluírem por si mesmos e irem revelando pausadamente maiores conhecimentos. O que se desencadeou em troca disso era o próprio avanço do mundo; à medida que fossem se construindo novas obras, as peças revelariam outras maravilhas.
Após a queda de Sólomon, as trinta peças se perderam e seu paradeiro foi um enigma durante muitos séculos, até que chegaram em mãos do Apóstolo Iscariote. Em consequência, se pressupõe que o elevado nível tecnológico mostrado por Rah durante a Guerra de Deus pertencia a ciência das Lojas. Por causas também desconhecidas a maioria delas acabou nas mãos de Eljared, que dividiu a metade pelos confins de Gaïa entre pessoas capazes de lhes tirar proveito, e escondeu as outras em diversos lugares para que fossem encontradas casualmente em seu devido momento.
Cada peça contém diversas classes de conhecimentos, assim requerem variados métodos de ativação e interpretação. Suas formas, originalmente arredondadas e do tamanho de uma moeda, foram muito alteradas enquanto evoluíam com o passo dos anos. Ainda que a maioria mantém a mesma morfologia, outras não se parecem em nada, com exceção na cor, em seu aspecto primitivo.
O Sangue Antigo
Os duzentos e oitenta e quatro senadores de Sólomon e suas famílias criaram um vínculo de sangue com os sistemas de controle das Lojas. Esse laço lhes permitia conectar suas consciências com as máquinas, lhes dando ordens através de pensamentos e fazendo com que estas respondessem a eles como suas servas. É difícil falar com precisão a natureza de tal união, mas atendendo aos estudos do Doutor Schwarzwald, poderia se dever a diminutas nanomáquinas sobrenaturais na torrente sanguínea.
Ainda hoje existem descendentes dos senadores por cujas veias corre esse mesmo sangue: os “Antigos”. A maioria deles não são conscientes de seu legado e vivem sem saber que são especiais. Se bem é certo que já não há mais um sistema para dar ordens, as máquinas de Sólomon ainda os reconhece como seus senhores, respondendo a sua presença em maior ou menor grau. Os Antigos desenvolvem além do mais um vínculo especial com as Lojas, que lhes dá um vago conhecimento de como faze-las funcionar. Realmente não são conscientes de como conseguem; tão só sabem, instintivamente, o que devem fazer chegado o momento.
Por suposto, o Sangue Antigo não tem nenhum poder sobre os derivados das Lojas Perdidas fabricados a partir delas, como as obras da Wissenschaft. Ainda assim, os Antigos conservam seu talento desconhecido para faze-las funcionar.
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